foto reprodução |
Acredito que a maior dificuldade dos pais ,nos dias de hoje,é descobrir o que
os filhos realmente pensam ou desejam.
A internet, 20 anos atrás, ofereceu uma revolução na comunicação com a
promessa de aproximar as pessoas,compartilhar informações e encurtar
distâncias.
Para os pais, essas são formas de se comunicar que há duas décadas ,caberia apenas em filme de ficção cientifica,realização de mágica ou
impossível até de pensar.
Que paradoxo! Que ambivalência! E será que estamos mesmo nos
"conectando" as pessoas?
A proposta dessa parafernália eletrônica para encurtar as
distâncias se tornou o motivo, no meu entender ,de termos hoje uma distância
ainda maior...tão perto e íntimo e ao mesmo tempo tão longe e
solitário.
foto Carolina Rambaldi |
Escuto diariamente no meu consultório as queixas desses pais
que sentem-se inadequados,ultrapassados e desatualizados para acompanharem o
ritmo frenético dessa nova modalidade da comunicação dos filhos com os amigos,
grupos e até pessoas que eles nem conhecem.
A todo o momento esses aparelhos vibram nos bolsos dos adolescentes ou
tocam e desconcentram as possíveis conversas que os pais deveriam ter na
mesa do jantar ou numa viagem de fim de semana em família.
"Ficar sem celular é o pior dos castigos para mim" disse outro
dia um adolescente chorando durante uma sessão. A mãe tirou o celular
dele por uma semana pois ele foi suspenso por 3 dias,por mau comportamento na
escola em que estuda em São Paulo .
O choro vinha não do arrependimento ou conscientização do mal que fez:
ou para a moça que xingou em sala de aula, ou por ter desrespeitado
a professora , ou o soco que deu no rapaz que tentou impedir o ataque de fúria
dele na sala enquanto ele tentava quebrar uma cadeira.
O choro vinha pela falta do celular por uma semana...
Penso que a concorrência é desleal mesmo, o pai e a mãe,irmãos, tia,
avó,só "oferecem" do mundo adulto, coisas "muito chatas"
como ordens e imposições.
Isso parece claro no olhar imediatista do adolescente e até consigo
concordar com eles, pois não estão acostumados a terem limites desde cedo, e
que essa proposta de frustrações, limitações só causam sofrimento e
são realmente ruins!!!
Mas tento dizer em vão que se levarmos em consideração que algumas
situações que a curtíssimo prazo parecem ruins, no fim das contas podem
ser boas a médio prazo, e eu costumo usar de exemplo :
" É como tomar injeção : é ruim na hora mas depois faz um bem
danado!"
Minha intenção não é convencê-los ,até porque para eles, ficar sem os
seus brinquedos eletrônicos ou jogos ou acesso a redes sociais, é ser castigado
de verdade.
Eles descrevem normalmente com muito pesar:
"Eu sinto muita falta e faria qualquer coisa para ter acesso
virtual ".
Ao escutar isso me lembro dos adictos ou dos compulsivos, e
me faz pensar numa espécie de "crise de abstinência".
Nesse caso abstinência do contato virtual ou inserção no grupo social
virtual , e como conseqüência são lançados imediatamente a sensações de solidão
e isolamento, em alguns casos piorando uma já existente auto estima
rebaixada e que gera muita insegurança.
Com isso cria-se um círculo vicioso muito perigoso para o ego do
adolescente.
Eles se queixam diariamente no meu consultório:
"Não sei por que minha mãe só reclama! Ela cobra que eu
não faço nada, que tudo que faço é correndo para me livrar logo! Ela quer toda
hora que eu faça só as coisas chatas dela, e que ela acha importante!"
"Meu pai pior: só me critica e proíbe tudo! Eu nem falo mais com
ele... Desisti! Ele não me entende mesmo!"
Essa distância entre pais e filhos, não é uma novidade, acontece faz
muito tempo e atravessa gerações, em formas variadas de reclamações,
e eu não creio que seja isso tudo por culpa do celular, da tecnologia, ou
que exista um motivo exclusivo, e sim que se agravou por que os
pais não se apropriam mais da função de dar ordens e
limites claros pois sentem culpa e então, a conseqüência é que os filhos
se tornam pessoas "estranhas" a eles.
foto redropução |
"Filho,eu já tive a sua idade... Eu entendo o que você está
sentindo...eu sei o que você está passando ..." Ainda é a
melhor forma de contato dos pais na tentativa de colocarem-se no lugar
deles onde o objetivo é uma aproximação para dar amor aos seus
filhos.
Mas os filhos escutam como mais uma "conversa chata"
onde os pais fazem as críticas de sempre.
Penso que a satisfação dos desejos imediatos e a falta de tolerância a
frustração faz com que os adolescentes se revelem uma ameaça a si mesma.
Fico com a imagem de uma arma engatilhada em mãos inábeis e nervosas.
Cabe aos pais desengatilhar e tirar o perigo do alcance dos filhos.
Ele já teve essa idade também...
A minha conversa com os pais começa com um pedido: que eles
se lembrem que se ele esta sentado na minha frente preocupado com o futuro,no
caso do seu filho agora , de algum modo ele sobreviveu.
Pergunto a esses pais sempre a mesma coisa:
E quais foram as coisas que realmente importaram e fizeram
diferença, para num momento de duvida na suas vidas, optarem por A
ou B?
O que eles pensaram na hora de conter um impulso que parecia
incrível de se realizar ?
O que os segurou para conter um desejo imediato e muitas
vezes que podia ser perigoso ?
Certamente havia na cabeça deles, como a de seus filhos agora,muitas
dúvidas e poucas certezas .
Insisto que se lembrem o que passava por trás da cortina da consciência
e impediam que eles não fizessem uma bobagem ou cometessem um delito.
Esse pai ou essa mãe,normalmente me respondem que era a
garantia que os pais achavam ele "bom", que ele seria elogiado pela
bravura e bom comportamento e que ele era importante na vida da
família...
As vezes escuto que tinham medo pois os pais eram rígidos e ele seria
castigado.
E também é comum ouvi-los dizer que foram conversas que os
pais, tios, padrinhos e madrinhas ou as avós tinham com eles, em
momentos difíceis, ou encruzilhadas da vida em que eles iam pedir
conselhos, e que essas conversas, normalmente começavam com
"...Eu já tive a sua idade meu filho..."
Colaboração :Marilisa Viduedo Fraga
Psicologa
-Psicanalista infantil
Rua
Domingos Simões ,207
Morumbi-
SP
Tel:
11 3746-9978
Cel:
11 99492-8474
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