quinta-feira, 5 de maio de 2016

Eu já tive a sua idade ....

foto reprodução
Acredito que a maior dificuldade dos pais ,nos dias de hoje,é descobrir o que  os filhos realmente pensam ou desejam.
A internet, 20 anos atrás, ofereceu uma revolução na comunicação com a  promessa de aproximar as pessoas,compartilhar informações e encurtar distâncias.
Para os pais, essas são formas de se comunicar  que há duas décadas ,caberia apenas em filme de ficção cientifica,realização de mágica ou impossível até de pensar.
Que paradoxo! Que ambivalência! E será que estamos mesmo nos "conectando" as pessoas?
A proposta dessa parafernália eletrônica para  encurtar  as distâncias se tornou o motivo, no meu entender ,de termos hoje uma distância  ainda maior...tão perto e íntimo  e ao  mesmo tempo tão longe e solitário.
foto Carolina Rambaldi
Escuto diariamente no meu consultório  as queixas desses  pais que sentem-se inadequados,ultrapassados e desatualizados para acompanharem o ritmo frenético dessa nova modalidade da comunicação dos filhos com os amigos, grupos e até pessoas que eles nem conhecem.
A todo o momento esses aparelhos vibram nos bolsos dos adolescentes ou tocam e desconcentram as possíveis  conversas que os pais deveriam ter na mesa do jantar ou numa viagem de  fim de semana em família.

"Ficar sem celular é o pior dos castigos para mim" disse outro dia um adolescente  chorando durante uma sessão. A mãe tirou o celular dele por uma semana pois ele foi suspenso por 3 dias,por mau comportamento na escola em que estuda em  São Paulo .
O choro vinha não do arrependimento ou conscientização do mal que fez: ou para  a moça que  xingou em sala de aula, ou por ter desrespeitado a professora , ou o soco  que deu no rapaz que tentou impedir o ataque de fúria  dele na sala enquanto ele tentava  quebrar  uma cadeira.
O choro vinha pela falta do celular por uma semana...


Penso que a concorrência é desleal mesmo, o pai e a mãe,irmãos, tia, avó,só "oferecem" do mundo adulto, coisas "muito chatas" como  ordens  e imposições.
Isso parece claro no olhar imediatista do adolescente e até consigo concordar com eles, pois não estão acostumados a terem limites desde cedo, e que essa proposta  de frustrações, limitações só causam  sofrimento e  são realmente ruins!!!

Mas tento dizer em vão que se levarmos  em consideração que algumas situações que a curtíssimo prazo parecem  ruins, no fim das contas podem ser boas a médio prazo, e eu costumo usar de exemplo :
" É como tomar injeção : é ruim na hora mas depois faz um bem danado!"

Minha intenção não é convencê-los ,até porque para eles, ficar sem os seus brinquedos eletrônicos ou jogos ou acesso a redes sociais, é ser castigado de verdade.

Eles descrevem normalmente com muito pesar:
"Eu sinto muita falta e faria qualquer coisa para ter acesso virtual ".

Ao escutar isso me lembro dos adictos  ou dos compulsivos, e me faz pensar numa espécie de "crise de  abstinência".
Nesse caso abstinência do contato virtual ou inserção no grupo social virtual , e como conseqüência são lançados imediatamente a sensações de solidão e isolamento, em alguns casos piorando uma  já existente auto estima  rebaixada e  que gera muita insegurança.
Com isso cria-se  um círculo vicioso muito perigoso para o ego do adolescente.

Eles se queixam diariamente no meu consultório:
"Não sei por que minha mãe  só reclama! Ela  cobra que eu não faço nada, que tudo que faço é correndo para me livrar logo! Ela quer toda hora que eu faça só as coisas chatas dela, e que ela acha importante!"
"Meu pai pior: só me critica e proíbe tudo! Eu nem falo mais com ele... Desisti! Ele não me entende mesmo!"

Essa distância entre pais e filhos, não é uma novidade, acontece faz muito tempo e atravessa gerações, em formas variadas  de reclamações,  e eu não creio que seja isso tudo por culpa do celular, da tecnologia, ou que exista um motivo exclusivo, e sim que se agravou   por que os pais  não se apropriam mais  da função de dar ordens e  limites claros pois sentem culpa e então, a conseqüência é que os filhos se tornam  pessoas "estranhas" a eles.
foto redropução

"Filho,eu já tive a sua idade... Eu entendo o que você está sentindo...eu sei o que você está passando ..." Ainda é  a melhor forma de contato dos pais na tentativa de colocarem-se no lugar deles onde o objetivo é uma aproximação para dar amor aos seus filhos.
Mas os filhos  escutam como mais uma "conversa chata" onde os pais fazem as  críticas de sempre.

Penso que a satisfação dos desejos imediatos e a falta de tolerância a frustração faz com que os adolescentes se revelem uma ameaça a si mesma.
Fico com a imagem de uma arma engatilhada em mãos inábeis e nervosas.

Cabe aos pais desengatilhar e tirar o perigo do alcance dos filhos.

Ele já teve essa idade também...

A minha conversa com os pais  começa com um pedido: que  eles se lembrem que se ele esta sentado na minha frente preocupado com o futuro,no caso do seu filho agora , de  algum modo ele sobreviveu.

Pergunto a esses pais sempre a  mesma coisa: 

E quais  foram as coisas que realmente importaram e fizeram diferença, para  num  momento de duvida na suas vidas, optarem por A ou B?
O que eles pensaram  na hora de conter um impulso que parecia incrível de se realizar ? 
O que os segurou  para conter  um desejo imediato e muitas vezes que podia ser perigoso ?
Certamente havia na cabeça deles, como a de seus filhos agora,muitas dúvidas e poucas certezas .

Insisto que se lembrem o que passava por trás da cortina da consciência e impediam que eles não fizessem uma bobagem ou cometessem  um delito.

Esse pai ou essa mãe,normalmente me respondem que  era  a garantia que os pais achavam ele "bom", que ele seria elogiado pela bravura e bom comportamento e que ele era  importante  na vida da família... 

As vezes escuto que tinham medo pois os pais eram rígidos e ele seria castigado.

E também é comum ouvi-los dizer que foram  conversas  que os pais, tios, padrinhos e madrinhas  ou as avós  tinham com eles, em momentos difíceis, ou encruzilhadas da vida  em que eles iam pedir  conselhos, e que essas conversas, normalmente começavam com
"...Eu já tive a sua idade meu filho..."


Colaboração :Marilisa Viduedo Fraga 
Psicologa -Psicanalista infantil 
Rua Domingos Simões ,207
Morumbi- SP 
Tel: 11 3746-9978

Cel: 11 99492-8474

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